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A mostrar mensagens de dezembro, 2011

Um poema à sexta.

Adeus Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis. Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. E eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco mas é verdade, uns olhos como todos os outros. Já gastámos as palavras. Quando agora digo: meu amor, já não se passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza

Natal visto por um poeta

I Nasce mais uma vez, Menino Deus! Não faltes, que me faltas Neste inverno gelado. Nasce nu e sagrado No meu poema, Se não tens um presépio Mais agasalhado. Nasce e fica comigo Secretamente, Até que eu, infiel, te denuncie Aos Herodes do mundo. Até que eu, incapaz De me calar, Devasse os versos e destrua a paz Que agora sinto, só de te sonhar. Miguel Torga, in Diário XV

Um poema à sexta.

Natal Um anjo imaginado, Um anjo diabético, atual, Ergueu a mão e disse: — É noite de Natal, Paz à imaginação! E todo o ritual Que antecede o milagre habitual Perdeu a exaltação. Em vez de excelsos hinos de confiança No mistério divino, E de mirra, e de incenso e ouro Derramados No presépio vazio, Duas perguntas brancas, regeladas Como a neve que cai, E breve como o vento Que entra por uma fresta, quezilento, Redemoinha e sai:  À volta da lareira Quantas almas se aquecem Fraternalmente? Quantas desejam que o Menino venha Ouvir humanamente O lancinante crepitar da lenha?

Solstício de inverno

NATAL Solstício de inverno. Aqui estou novamente a festejá-lo À fogueira dos meus antepassados Das cavernas. Neva-me na lembrança, E sonho a primavera Florida nos sentidos. Consciente da fera Que nesses tempos idos Também era, Imagino um segundo nascimento Sobrenatural Da minha humanidade. Na humildade Dum presépio ideal, Emblematizo essa virtualidade. E chamo-lhe Natal.   Miguel Torga (1982)

Um poema à sexta.

Este é o tempo Este é o tempo Este é o tempo Da selva mais obscura Até o ar azul se tornou grades E a luz do sol se tornou impura Esta é a noite Densa de chacais Pesada de amargura Este é o tempo em que os homens renunciam. Sophia de Mello Breyner in Mar Novo (1958)

Um poema à sexta.

OUTONO Tarde pintada Por não sei que pintor. Nunca vi tanta cor Tão colorida! Se é de morte ou de vida, Não é comigo. Eu, simplesmente, digo Que há tanta fantasia Neste dia, Que o mundo me parece Vestido por ciganas adivinhas, E que gosto de o ver, e me apetece Ter folhas, como as vinhas. Miguel Torga

Sugestões de leitura 2

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O cavaleiro da Dinamarca, Sophia de Mello Breyner Andresen , Figueirinhas Esta é a história de um cavaleiro, na Dinamarca, para cuja família o Natal era a época mais especial do ano. Todos os anos as coisas que se passavam eram iguais mas maravilhosas. Até que um dia decidiu sair da sua casa  e ir em peregrinação até à Terra Santa, onde pretendia passar o Natal na gruta onde Cristo nasceu e onde rezaram os pastores, os Reis Magos e os Anjos. Despediu-se da mulher e dos filhos, dizendo-lhes que regressaria dali por dois anos. Partiu então numa Primavera. Como as viagens eram difíceis de realizar,  ir da Dinamarca até à Palestina era uma grande aventura. Seguimos com o cavaleiro na sua viagem, onde conhecemos lugares históricos e personagens interessantes. Desde a descrição da passagem das estações do ano e da celebração do Natal à narração de histórias quase mágicas, esta aventura leva-nos até junto de uma árvore de Natal... E mais não digo... El albero di Sabrina ,Renato

Natais diferentes II

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      Natais diferentes terão os nossos alunos aqui na Ferreira. Obviamente, numa escola tão grande, temos alunos de diversas etnias, cuja importância dada ao Natal varia.         Por outro lado, há a questão da constituição das famílias; em famílias reconstituídas haverá a diferença entre passar a noite com o pai ou com a mãe e respetivas famílias. Há sempre avós, cuja presença é uma garantia de normalidade em dias mais complicados, que ajudam a serenar ânimos e corações.        Depois, a «crise»; com aspas por ter tantas interpretações. Pouco dinheiro para prendas mas também pouca disponibilidade para mimos, em muitos casos. Gostaria que deixassem aqui nos comentários algumas «imagens» do vosso Natal. Também para trazer até nós o espírito de partilha próprio da época e que parece custar a aparecer.        Para mim, enquanto professora de língua portuguesa,especialmente, porque os meus meninos me «dizem» (escrevem...) que gostariam de um Natal com a família toda reunida, com

Natais diferentes I

O Natal da Minha Infância Nasci numa aldeia que é hoje uma vila, situada em Portelo de Cambres, perto do Concelho de Lamego, numa quinta chamada Fonte da Costa. Vim a este mundo com as ajudas de uma parteira, a Dona Isaura, que era analfabeta, mas tinha muita experiência de vida. Naquele tempo, a maioria das mulheres tinha os seus filhos em casa; só em situações extremas é que eram levadas para o hospital. Quanto à minha estrutura familiar, não foi muito bafejada pela sorte. O meu pai partiu deste mundo ainda muito jovem, tinha eu apenas um ano de idade. A minha mãe, graças a Deus, durou um pouco mais. Era uma mulher de estatura baixa, forte, alegre, teimosa, mas com muito bom coração. Foram estas qualidades que a ajudaram a superar as dificuldades da vida. Naquela altura, não era fácil criar sozinhos oito filhos ainda pequenos. Não havia subsídios! Foi graças à ajuda da minha avó materna e aos meus padrinhos que viviam no Brasil que a minha mãe nos conseguiu proporcionar um

Sugestões de leitura

Os alunos pedem-nos sugestões sobre os livros a ler. A seu tempo ficarão aqui sugestões específicas, muitas delas dos próprios alunos. Entretanto, fica o link da lista de livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura. É preciso não esquecer que está organizado cronologicamente e que primeiro vêm os livros recomendados aos mais novos. Os alunos do terceiro ciclo e do secundário têm de ser mais pacientes e ir andando na lista. Poderá ser uma boa oportunidade para recordar títulos já lidos! Boas leituras!

Recomeçar nem sempre é fácil (ou vale mais tarde do que nunca?)...

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De facto, depois de uma longa ausência esperamos estar de volta para acompanhar com leituras o resto deste ano letivo. A escolha deste primeiro de dezembro não foi assim tão inocente; é o dia em que se comemora a reconquista da independência de Portugal face a E spanha, é o dia que marca uma data importante para um dos países mais antigos da Europa. Parece que nos esquecemos muito de coisas importantes em alturas de crise mas nunca nos deveríamos esquecer de que, sendo um país antigo e de fortes tradições, deveríamos ter orgulho de quem somos: possuidores de uma das línguas mais faladas no mundo, detentores de usos e costumes que conservamos com gosto (e sem lhes dar muito valor...) e com características geográficas únicas. Sempre gostei de viajar mas sempre achei que esse gosto tem a ver com o facto de saber que regressar a Portugal está implícito, regressar a casa faz parte do gosto da descoberta de novos mundos. E porque fomos pioneiros na descoberta de um mundo alargado, acol