Para quem comenta «Ah, o Halloween nada tem a ver connosco!»...
Tradição portuguesa tem muitas semelhanças com o Halloween norte-americano
Na região de Leiria e até mesmo na Estremadura, milhares de crianças saem à rua no Dia de Todos os Santos para pedir o «bolinho» ou o «Pão por Deus», uma tradição ancestral que tem algumas semelhanças com o Halloween norte-americano.
Nos Estados Unidos, as crianças percorrem as casas dos vizinhos na véspera do Dia de Todos os Santos a pedir doces, mas, em Portugal, essa visita é feita na manhã do feriado, sem conotações sobrenaturais ou ameaças de partidas a quem não tiver nada para dar.
Em Leiria, crianças, transportando saco ou mochila, percorrem ruas e ruelas de aldeias, vilas e até cidades, e batem à porta de familiares, vizinhos e desconhecidos, com a tradicional frase: ’Ó tia, dá bolinho?’. Na ausência de bolinho, as ofertas passam por chocolates, rebuçados ou dinheiro.
Segundo o especialista em questões etnográficas José Travaços Santos, esta tradição, que chegou a ser extensiva a todo o território nacional, vai ’buscar os seus princípios ao Cristianismo’, ’Trata-se de expressar a solidariedade e o amor pelos outros, principalmente pelas crianças’, disse à Lusa.
’Noutros tempos, em que a fome apertava, este era o dia das crianças tirarem a barriga da miséria’, recordou José Travaços Santos, acrescentando: ’Era uma manhã dedicada às crianças, em que se tratavam os vizinhos por «tu» e ninguém negava o bolinho’.
Embora reconhecendo algumas alterações, sobretudo a substituição do bolinho por doces ou dinheiro, o historiador anotou que a explicação para esta mudança pode ser encontrada no comodismo das pessoas, que já não fazem bolinhos em casa, ou no materialismo desta época, visível na oferta de dinheiro.
Por outro lado, José Travaços dos Santos admitiu que para esta situação também contribui o facto de se terem fixado na região de Leiria ’pessoas de fora, que não têm os mesmos costumes’.
Por isso, não estranha que mais facilmente se peça «o bolinho» que o «Pão por Deus» ou o «santorinho». ’Estas expressões perderam-se nos últimos anos, mas tinham o mesmo significado’, observou o etnógrafo, admitindo igualmente que o espírito de solidariedade, marca do Dia de Todos os Santos noutros tempos, esteja a desaparecer, assim como a confraternização entre vizinhos.
’Neste dia, as manhãs eram para as crianças e à tarde era hábito as pessoas abrirem as casas para receber familiares e vizinhos para confraternizar’, recordou José Travaços dos Santos.
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http://www.portugalvivo.com/o-nosso-pao-por-deus.html
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