Papiniano Carlos (1918 - 2012)
O escritor Papiniano Carlos, um dos últimos representantes do
neo-realismo português, morreu no passado dia cinco de dezembro, no Porto.
O
poeta, autor de Sonhar a Terra Livre e Insubmissa,
que somava mais de 60 anos de militância comunista, contava 94 anos.
Papiniano
Manuel Carlos Vasconcelos Rodrigues nasceu em Lourenço Marques, actual Maputo,
Moçambique, a 9 de Novembro de 1918, fixando-se no Porto, aos 10 anos, onde
estudou.
Publicou
o primeiro livro de poesia em 1942, Esboço, quatro anos antes de Terra
com Sede, a sua estreia na ficção, e de Estrada
Nova, com capa de Júlio Pomar, obra que seria apreendida pela PIDE,
a polícia política da ditadura.
A
adesão do escritor ao PCP remonta ao final da década de 1940, no pós-guerra,
actuando na clandestinidade com o nome "Garcia", numa alusão ao poeta
andaluz Federico Garcia Lorca.
Na
mesma altura, depois de ter frequentado a Faculdade de Ciências da Universidade
do Porto, dedicou-se ao ensino, que teve de abandonar, por se ter recusado a
subscrever a “declaração anticomunista”, imposta pelo regime aos funcionários.
Deu
explicações e foi delegado de propaganda médica. O escritor português foi preso
três vezes pela PIDE.
Com
Egito Gonçalves, Luís Veiga Leitão, António Rebordão Navarro e Daniel Filipe,
dirigiu Notícias de Bloqueio, série
de “fascículos de poesia”, publicados no Porto entre 1957 e 1961, designação da
revista retirada do título de um poema de Egito Gonçalves.
Colaborou
nas revistas Seara Nova e Vértice e integrou os corpos dirigentes
do Círculo de Cultura Teatral do Teatro Experimental do Porto.
A
Menina Gotinha de Água, para a infância, que viria a marcar o ressurgimento do género,
a par das obras de Matilde Rosa Araújo, foi editada na década de 1960 e
constitui um dos seus maiores êxitos editoriais.
Entre
outros livros, Papiniano Carlos escreveu Mãe Terra (1948),As Florestas e os Ventos, A
Rosa Nocturna (1961), A
Ave sobre a Cidade (1973), O
Rio na Treva (1975).
Na
literatura infantil assinou ainda O Grande Lagarto da Pedra Azul e A
Viagem de Alexandra.
Em
1998, publicou A Memória com Passaporte: Um tal Perafita
na ‘Casa del Campo’ - Relato de um prisioneiro na PIDE do Porto em 1937.
Papiniano
Carlos está representado na Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa, Nueva
Poesia Portuguesa e
em La Poésie Ibérique de Combat, entre outras
recolhas.
www.publico.pt
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